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  • Foto do escritorLucca Hansen

Como Tratar o Olho Seco? O que é o Olho Seco?

O que é o Olho Seco?


O olho seco é uma condição na qual o paciente tem uma dificuldade de lubrificação dos olhos, isto pode causar incômodo, dificuldade visual, ardência, irritação nos olhos, olho vermelho, cansaço nos olhos na leitura prolongada, fotofobia (incômodo com a luz).



Caso de Olho Seco Moderado com Vermelhidão dos Olhos Moderada.
Caso de Olho Seco Moderado com Vermelhidão dos Olhos Moderada.


Muitos pacientes sofrem de olho seco mas não tem um diagnóstico formal do problema.


Para começar a conversa é importante entender que a lágrima não é feita apenas de água, e sim tem uma composição bem complexa conforme podemos ver na figura abaixo:


Composição da Lágrima: as partes principais da lágrima são: camada mucina, camada aquosa e camada lipídica. A camada de mucina é produzida pelas células da superfície ocular, a camada aquosa é produzida pela glândula lacrimal e glândulas acessórias, e a parte lipídica é produzida pelas glândulas de meibomio.
Composição da Lágrima: as partes principais da lágrima são: camada mucina, camada aquosa e camada lipídica. A camada de mucina é produzida pelas células da superfície ocular, a camada aquosa é produzida pela glândula lacrimal e glândulas acessórias, e a parte lipídica é produzida pelas glândulas de meibomio.


Como diagnosticar o olho seco?


1)Investigação da História do paciente (anamnese): essencial para entender a gravidade dos sintomas, em quais situações ocorre o olho seco, se há perda de qualidade de vida devido ao olho seco, entender se o paciente toma medicamentos que podem causar olho seco (antidepressivos com os inibidores seletivos de recaptação de serotonina - os ISRS como Sertalina, Citalopram, Paroxetina, Escitalopram e afins).


2)Avaliação da superfície do olho - da córnea, da conjuntiva, do filme lacrimal, das pequenas glândulas que produzem a parte gordurosa do filme lacrimal (glândulas de meibomius) e são comprometidas na blefarite e na meibomite - condições comuns em pacientes com olho seco.



3)Avaliação do "Break Up Time": com o uso de fluoresceína (colírio especial laranja) é possível contar o tempo que a lágrima (o filme lacrimal) demora para se quebrar na superfície do olho após o paciente piscar. Esta medida ajuda muito na compreensão da função do filme lacrimal e no diagnóstico do olho seco.


4)Avaliação com uso de corantes especiais para avaliar se há pequenas feridas microscópicas no olho como: a ceratite (pequenas feridas na córnea), pequenas feridas na conjuntiva. Podem ser usados três corantes no formato de colírio ou sticks para esta finalidade: Fluoresceína, Verde Lissamina, Rosa Bengala.


Teste com Fluoresceína e a Luz Especial (Azul de Cobalto) revela imperfeições / machucados na córnea que podem não ser visíveis normalmente.
Teste com Fluoresceína e a Luz Especial (Azul de Cobalto) revela imperfeições / machucados na córnea que podem não ser visíveis normalmente.

Teste com Verde Lissamina mostra alterações corneanas em caso de olho seco.
Teste com Verde Lissamina mostra alterações corneanas em caso de olho seco.

Teste com corante Rosa Bengala em paciente com olho seco.
Teste com corante Rosa Bengala em paciente com olho seco.

5)Avaliação da Irregularidade de Superfície através da Topografia de Anéis de Plácido: a videoceratoscopia, ou ceratoscopia computadorizada, pode ser muito interessante na avaliação dos pacientes com olho seco.


6)Meibografia: novos aparelhos avaliam as glândulas de meibomius de maneira mais completa. O mais usado atualmente é o Keratograph.


7)Teste de Schirmer: importante na investigação da deficiência de produção aquosa do filme lacrimal - na Ceratoconjuntivite Sicca / Sd. de Sjogren temos diminuição da produção aquosa do filme lacrimal e isto é evidenciado neste simples teste que utiliza pequenas fitas de papel para avaliar quanta lágrima é produzida em 5 minutos. Pode ser realizado com ou sem uso de anestésico.

Com anestésico: avalia a produção basal da lágrima.

Sem anestésico: avalia a produção basal + reflexa da lágrima.


Causas especiais de olho seco:

1)Sd. de Sjogren: doença autoimune sistêmica, na qual anticorpos do próprio paciente "atacam" as glândulas do corpo - sendo mais acometidas as glândulas salivares, e aquosas dos olhos - causando boca seca e olho seco. A investigação deste problema exige avaliação oftalmológica e acompanhamento oftalmológico, além de avaliação por médico especialista em Reumatologia (Reumatologista). É especialmente comum em pacientes que já possuem outras condições reumatológicas (Artrite Reumatóide, Esclerodermia e Doença Mista do Tecido Colágeno, Lupus Eritematoso Sistêmico e outras); porém, este problema pode ocorrer de maneira isolada e ser de difícil diagnóstico devido ser mais incomum / raro. Muitos pacientes precisam ser avaliados por múltiplos médicos até ter seu diagnóstico efetivado. Exames de sangue (Anti-RO e Anti-LA) podem ajudar a diagnosticar o problema. O teste de Schirmer aqui é essencial.


2)Uso de Roacutan / Isotretinoína: é de comum conhecimento que estes medicamentos causam olho seco e boca seca, especialmente durante o uso dos remédios. Porém, poucas pessoas sabem que o uso mesmo que temporário destes medicamentos pode ocasionar perda permanente da função das glândulas aquosas e o paciente pode apresentar olho seco crônico por insuficiência de produção aquosa e/ou apresentar olho seco quando este se torna mais velho (40-60 anos). Muitas vezes é difícil relacionar o uso do medicamento ao olho seco devido o uso do remédio ter ocorrido muitos anos antes e a maioria dos pacientes não lembrar de mencionar isto na consulta oftalmológica.


3)Cirurgia Refrativa prévia à Laser: o PRK e o LASIK causam rotineiramente olho seco temporário (até 50% dos pacientes tem sintomas de olho seco nos primeiros 06 meses), após a recuperação a grande maioria dos pacientes não apresentará mais olho seco. Porém, em uma minoria dos pacientes pode haver olho seco crônico. Portanto, deve-se exercer muita cautela ao indicar cirurgia refrativa para pacientes que já possuem histórico de olho seco e doenças reumatológicas concomitantes.


Quais os tipos de olho seco?


O tratamento correto do olho seco depende da identificação do tipo de olho seco que o paciente apresenta, para que o tratamento seja mais eficaz.


1)Olho seco por deficiência de produção aquosa: a parte aquosa do filme lacrimal não é produzida adequadamente e por isto o paciente apresenta menos lágrimas. É diagnosticado através do teste de Schirmer. A reposição de lágrimas artificiais e o uso de plugs de silicone para os pontos lacrimais apresentam os melhores resultados nestes pacientes. Pode ser realizado inclusive o fechamento permanente dos pontos lacrimais nos pacientes com casos mais graves. Os pontos lacrimais drenam as lágrimas (existem 2 por olho - um em cada pálpebra) para o sistema de drenagem lacrimal que desemboca no meato médio do nariz.

Teste de Schirmer: usado para avaliar a produção aquosa do filme lacrimal.
Teste de Schirmer: usado para avaliar a produção aquosa do filme lacrimal.


2)Olho seco por deficiência de produção lipídica: muito comum na população, especialmente nos portadores de blefarite ou de meibomite. Nestes pacientes as glândulas gordurosas da margem das pálpebras se tornam progressivamente "entupidas" (veja a foto abaixo) e tem produção deficiente do filme gorduroso, ou apresentam produção de má qualidade do filme lipídico (é demasiadamente espesso). Deve-se indicar principalmente a limpeza dos cílios para estes pacientes usando shampoo neutro infantil, blephagel ou systane lid wipes. O uso isolado de lágrimas artificiais nestes casos é menos eficaz, pois como não há filme lipídico há uma tendência à evaporação exacerbada do filme lacrimal.

Estágios da Blefarite Posterior ou Meibomite - Inflamação da Margem da Pálpebra que Gera Olho Vermelho e Coceira. A pálpebra na blefarite fica vermelha, irritada, coça. Nota-se no microscópio a obstrução dos orifícios das glândulas de meibomius (glândulas gordurosas das pálpebras), que ocorre de maneira progressiva. Há olho seco evaporativo associado nestes casos.
Estágios da Blefarite Posterior ou Meibomite.A pálpebra na blefarite fica vermelha, irritada, coça. Nota-se no microscópio a obstrução dos orifícios das glândulas de meibomius (glândulas gordurosas das pálpebras), que ocorre de maneira progressiva. Há olho seco evaporativo associado nestes casos.

3)Olho seco por mau fechamento dos olhos: Após as cirurgias de pálpebra, nos casos de paralisia de Bell (paralisia periférica do nervo facial), nos casos de sedação em UTIs e cirurgias, nos casos de AVC com sequelas da função do nervo facial: tem-se dificuldade de fechar os olhos - chamada de Lagoftalmo (foto abaixo).


Lagoftalmo: quando o olho não fecha bem.  Tem múltiplas causas conforme descrevo no texto acima.
Lagoftalmo: quando o olho não fecha bem. É uma causa importante de olho seco. Ocorre muito frequentemente após a blefaroplastia de maneira transitória, mas pode ser permanente. Tem múltiplas causas conforme descrevo no texto acima.

Nestes casos há secura dos olhos devido a dificuldade de se piscar os olhos corretamente ou de mantê-los fechados ao dormir. Deve-se utilizar lágrimas artificiais, avaliar medidas para melhor fechamento das pálpebras a depender da causa específica do caso, usar pomadas especiais para lubrificação dos olhos (epitegel, vidisic), usar pomadas cicatrizantes para a superfície ocular (regencel), avaliar a oclusão temporária (com micropore, suturas especiais e/ou técnicas similares) e/ou permanente de parte da fenda palpebral.


Como tratar o olho seco?


1)Uso de lágrimas artificiais: os colírios de lágrima artificiais são excelentes e dão alívio dos sintomas para a maioria dos pacientes que tem olho seco. Existem formulações com conservantes (para uso até 6x por dia), e sem conservantes (para usar mais do que 6x por dia, e ideais para pacientes alérgicos / com sensibilidade aumentada dos olhos).


Os colírios à base de Hialuronato geralmente dão mais alívio e tem maior poder humidificante do que aqueles à base de Carmelose Sódica.


Exemplos de colírios prescritos:

-Sem conservantes: Hyabak, Thealoz Duo, Dews, Optive UD, Hiluropt, Lunah.

-Com conservantes: Lacrifilm, Lacribell, Ecofilm, Optive, Systane.


Hoje existem colírios especiais que repõe o filme gorduroso da lágrima além do aquoso - exemplo: Systane Complete.


Pode ser necessário testar mais de um tipo de lubrificante até achar o ideal para cada paciente.


Alguns pacientes preferem colírios mais "grossos"como o Lunah 2mg, enquanto outros prefere mais líquidos. Alguns tem sintomas com alguma marca, mas não tem com outra marca.


2)Uso de suplementos com Ômega 3 e Vitamina D: muitos pacientes tem ingestão insuficiente de Ômega 3 e de Vitamina D na dieta e tem benefício de usarem suplementação específica para esta finalidade.

Podem ser usadas formulações prontas como: Preservit, L-CAPS D+.

Podem ser usados: óleo de peixe, óleo de linhaça, vitamina D3.


O ômega 3 é naturalmente presente no óleo de peixes gordurosos com o salmão e no óleo de linhaça.


A deficiência de vitamina D é muito comum, mesmo em jovens, e muitos pacientes a tem e não sabem pois nunca testaram sua vitamina D. É especialmente comum no sul e sudeste do país, devido menor incidência solar.


O ideal é ingerir uma relação adequada de ômega 3, ômega 6 e ômega 9 na dieta para ter o melhor benefício destes ácidos graxos.


3)Limpeza dos cílios com Shampoo Infantil Neutro / Blephagel / Systane Lid Wipes: a limpeza diária dos cílios é indicada para a maioria dos pacientes com olho seco e com blefarite/meibomite, pode ajudar muito nos sintomas de coceira, ardência, irritação. Ajuda a melhorar a drenagem natural das glândulas lipídicas das pálpebras. Pode ser feita com água morna, ou realizada após compressas mornas para aumentar a eficácia da limpeza.

No caso do shampoo infantil neutro Johnson amarelo, recomendo pingar uma pequena gota, diluir com duas de água morna, fazer uma espuma, fechar bem os olhos, limpar os olhos fechados com espuma e lavar após.

No caso do Systane Lid Wipes, é só limpar com o lenço que já é umedecido e não é necessário enxaguar.

No caso do Blephagel, se aplica uma pequena porção na compressa que vem no produto, limpam-se os cílios e não é necessário enxaguar.


4)Plug de Silicone para Ponto Lacrimal: a oclusão temporária com plugs dos pontos lacrimais pode ser muito interessante para os pacientes com casos graves e crônicos de olho seco. Como é reversível e pode ser feita no consultório, é uma grande ferramenta de tratamento para os casos mais sérios.



Trajeto da Lágrima: a lágrima é produzida pelas glândulas e depois é escoada pelo sistema canalicular, por isto a oclusão do ponto lacrimal pode ser muito útil nos casos mais sérios de olho seco.
Trajeto da Lágrima: a lágrima é produzida pelas glândulas e depois é escoada pelo sistema canalicular para o nariz, por isto a oclusão do ponto lacrimal pode ser muito útil nos casos mais sérios de olho seco.

5)Luz Pulsada: o iLux da Alcon e outros aparelhos de luz pulsada são tratamentos utilizados no consultório que permitem a melhora da lubrificação ocular e podem ser indicados em casos de olho seco crônico e blefarite crônica. O tratamento é rápido (10-15 mins) e pode ser repetido se necessário / feito em esquema de tratamento.



iLUX é um dos aparelhos disponíveis no mercado para tratamento com luz pulsada nos casos de blefarite/meibomite.
iLUX é um dos aparelhos disponíveis no mercado para tratamento com luz pulsada nos casos de blefarite/meibomite.






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